quarta-feira, julho 28, 2004

Prioridades incorrectas

Há pouco fui interpelada na rua por um senhor. Acabadinha de passar um sinal vermelho para os peões na 5 de Outubro, ao chegar ao outro lado ouvi uma voz:
- Pode dizer-me se já está verde para os peões?
Era cego.
- Não, respondi, mas não se preocupe porque quando mudar aquilo apita.
- Não, o que apita é o da Elias Garcia. Este não.

Temos estádios, temos casinos, até vamos ter uma nova catedral. Mas não temos sinais que apitem e informem que se pode passar.
Antes de pensarem em mudar o nome cego para invisual, porque sim, porque fica bem, arregaçem as mangas e facilitem-lhes a vida.
Politicamente correcto, sim, mas não apenas no papel.

A gata voadora

Foi em Março de 2002 que eles nasceram: três coisinhas minúsculas e cinzentas. O Ralph, que num gesto altruísta participou no milagre da multiplicação, não demonstrou qualquer sinal de simpatia pelos rebentos.
Eram três gatinhos, pretos, como o pai: duas fêmeas e um macho. Lindos.
O macho foi para Viseu, trocou os ares da Lapa pelos de uma quinta, rica em verde e pobre em barulhos da cidade. Como companheiro de brincadeiras escolheu um Serra da Estrela, que se revelou deveras útil no inverno...
As manas ficaram por cá. A Pamy e a Patita.
A Pamy é muito especial: pequenina, aventureira, inteligente e desde cedo revelou ser independente. Não precisa de companhia para brincar. Apenas para dormir.
Ontem, perdeu uma das suas sete vidas. No quintal da frente. Foi o susto da sua vida. E da minha.
Vivemos desde o ano passado num terceiro andar, que tecnicamente é um quinto porque como a rua desce, existem mais dois andares, caves, que dão para um pátio. Pátio esse que faz fronteira com os pátios das casas em frente.
Assim que nos mudamos para aquela casa, a Pamy morreu de amores pelas janelas da cozinha: grandes, cheias de luz e com tantas coisas para se ver lá fora. Passeava-se em dois cêntimetros quadrados e em marcha-à-rè voltava à segurança da cozinha. Até ontem. Desequilibrou-se, ainda tentou agarrar-se à corda da roupa, mas não conseguiu. Saltou 5 andares e como se isso não bastasse aterrou no pátio da casa da frente... Caíu de pé, caem sempre.
Parti à descoberta da entrada do prédio que miraculosamente desembocasse naquele pátio. Por três vezes expliquei a estória, e por três vezes os meus simpáticos vizinhos me deixaram entrar nas suas casas, rumo ao pátio desejado. Lá o descobri e nele a Pamy, a um canto, assustada...
Agora está tudo bem. Voltou a casa, refugiou-se no sítio favorito (o tapete fofinho do quarto-de-banho). O Ralph passou-lhe um raspanete. Pô-la de castigo. As outras foram solidárias e acolheram-na.
Quem ainda não recuperou do susto fui eu.

segunda-feira, julho 26, 2004

S. Citador

Ele cita e cita e cita até à exaustão.
Li a entrevista ao Sr. Sócrates e fiquei desiludida. Tem-se em óptima consideração, mas quanto a mim não tem perfil de líder e parece francamente medíocre. Bocejei trinta vezes enquanto lia a entrevista.
Mas, por favor, alguém que lhe diga que é cansativo ler uma entrevista com tanta citação. É que se fica sem saber se o homem tem ideias e vontade próprias. Porquê o constante repetir daquilo que outros ilustres uma vez disseram? Vem nalgum manual ou num daqueles livrinhos 'Como levar os outros a achar que você é um intelectual dono de uma colossal biblioteca e que devora livros ao ritmo de 10 por hora!' que é importante citar?
Não há paciência!

quarta-feira, julho 21, 2004

E tu? Quantas horas dormes?

Ao passar pelo quiosque vi uma dessas revistas generalistas, que de tão generalistas que são perdem toda a especificidade e eficácia na abordagem de tantos e milhentos assuntos, cuja capa louvava virtudes ao recém nomeado-engasgado-atrapalhado PM (vade retro!).
Que sim, que afinal o senhor até tem qualidades, que passam por telefonar aos adjuntos durante a noite (hummm na capa não explicava de onde telefonava nem os motivos), entre outras coisas.
Aquilo que achei deveras curioso foi que neste perfil resumido, informava a dita publicação aos seus leitores, que o senhor, à semelhança do professor da nação, dorme apenas algumas horinhas por dia. O que é que isto quer dizer? Qual é o valor real desta informação?

Agora para se ser competente, estar a par de tudo, interessar-se, ser interessante, e pelo meio usar a abusar de um tempo de antena completamente parcial, é necessário primeiro averiguar quantas horas se passa pelas brasas?

Deverei reformular o meu CV e incluir essa informação? Em que parte?
Hummmm.... Ás tantas é melhor não.  É que eu gosto imenso de dormir, quando posso tento cumprir as oito horinhas e mesmo que durma 12 de seguida, tenho sempre dificuldades em levantar-me.
Que é que isso diz de mim? Que sou uma incompetente, que não ligo aos meus supervisores e colegas durante a madrugada, que não encaro o meu trabalho com responsabilidade. Céus, serei assim tão má?
E agora uma pergunta feita à maneira da nossa amiga: e tu, quantas horas dormes?

quarta-feira, julho 14, 2004

Sem jet lag

Cinco dias fora e quando volto parece-me que se passou uma eternidade...
Normalmente quando vou a Budapeste em trabalho fico sempre com a sensação, quando regresso, que teríamos os mesmos resultados se tivessemos feito uma vídeo conferência entre todos os participantes. Mas desta vez não, foi muito produtiva.

A minha roomate alemã ressonava e é rapariga mais desorganizada que alguma vez vi, batendo todos os recordes de utilização do papel higiénico... Mas era uma querida e tinha um sotaque engraçado. Finalmente temos um homem bonito na organização, um belo representante da Irlanda. A colega da Eslováquia bateu-nos a todas pelas vestes dos anos 60. Os doces do Quirguistão são os melhores do mundo. O cognac arménio põe os franceses no lixo. A pronúncia da Inglaterra profunda é indicifrável.

Para surpresa minha, todos se me dirigiram para dizer que Portugal devia ter ganho o campeonato e apresentarem os parabéns pela organização. Porque, pelos vistos, esperavam que o campeonato fosse feito ao 'latin way'. Whatever that means.
Giro foi ver a orientadora da conferência, que é grega!, em que sempre que ligava o pc aparecia uma fotografia da equipa grega, na Luz, com a taça. A primeira vez teve graça, as outras nem por isso. No último dia o lobby português foi tão forte que assim que a fotografia apareceu, foi imediatamente bombardeada por bolas de papel: russos, arménios, holandeses, húngaros e até os ingleses consegui mobilizar para esta causa.
E fiquei expert em futebol...

Agora estou de volta. E era esperada no aeroporto! Tão bom!

domingo, julho 11, 2004

Oh ceus!

Ha tres dias estavamos num bar, seriam 11 da noite, e recebo uma sms. Quando a li o meu ar de preocupada foi tao visivel que um colega aproximou-se e, a medo, perguntou-me se estava tudo bem. Se era caso de doenca ou morte.
Era o R. a informar-me que ja temos novo PM. O coiso. O do cabelinho sebento e fitinhas no pulso. Aquele que nada fez para la chegar. Aquele que so agita mas nem m**** levanta.
Por isso tomei uma decisao: nao volto. Fico por ca. Com a paprika, com os igens, com a humidade e com os electricos do sec. 19. Com a antipatia e total ignorancia da lingua. Com a desconfianca.
Tudo, menos voltar.
Nao, nos nao temos os governantes que merecemos. Nao fizemos tanto mal ao senhor de barbas que vive la em cima para nos castigar assim.
Tenham medo, tenham muito medo...

quinta-feira, julho 08, 2004

Magyares

Aarggghhh
Ja estou em Budapeste (a escrever num teclado manhoso onde tem que se advinhar que tecla contem a letra que se pretende teclar) a destilar. Mais humido que esta humidade so mesmo debaixo de agua.
O taxista esta manha deu-lhe para apitar e acordar-me os vizinhos as seis e meia. Livra!
O aviao saiu meia-hora atrasado e quando eu me preparava para apropriar do lugar livre a janela eis que corre um sessentao (qual maratonista a preparar-se para os grandes jogos) e tunga! Vista para os Pirineus, para os Alpes, e eu no lugar do corredor...
Escala em Praga, correria habitual para encontrar as smoking areas. Olhar vidrado e os Ventil a quererem saltar da mala. Encontrei, num cafe onde paguei 2,50 por um expresso... deles.
Agora ja estou em Budapeste, que continuo a nao achar qualquer piada... ja matamos saudades dos colegas (gosto especialmente do Fazliddin do Tajiquistao - e um amor), jantamos, contamos as novidades, repetimos as historias de sempre. Fizemos um lindo e original exercicio de icebreaking. Arggghhhhh
E calhou-me uma roomate alema com demasiada cafeina no fluxo sanguineo. Espero que nao ressone...
Sim, hoje tudo parece muito mau. Tou cansada e so queria a minha cama.
Vou continuar a ler o meu livrinho, lindo, sobre os madeirenses errantes. Ate calha bem, hoje sinto-me uma.

segunda-feira, julho 05, 2004

Agora que já me sinto francamente melhor, elaborei mentalmente uma lista de assuntos que queria falar aqui:
- da injustiça de perder dois génios no mesmo dia
- do mau que é saber dessa perda pela fria televisão
- do bom que é saber que existe um legado lindíssimo deixado por esses dois génios
- do livro do Ferreira Fernandes, sobre Madeirenses Errantes
- do mar lindo do Porto Santo a quem os mares do Maui não fazem sombra
- da minha irmã mais nova que cada vez mais adoro e respeito
- de Budapeste, para onde vou daqui a dois dias
- do amigo incrível e namorado fabuloso que me calhou na rifa
- do atestado de burrice passado pelo meu médico
- dos gregos no Rossio no domingo passado
- do Ralph em cima da estante esta manhã

Mas não me apetece. Limito-me a ler os outros.

quinta-feira, julho 01, 2004

Afinal há coisas boas a acontecer. Encontrei forças para escrever que ela, sim ela, a Deusa voltou! Que bom!