segunda-feira, agosto 14, 2006

Há coisa de dois anos escrevi aqui sobre a minha gata voadora: a Pamy. Muito especial desde pequenina, sempre com uma tendência para se isolar dos irmãos, engraçadinha na forma de andar (saltitava de rabo espetado) e muito, muito curiosa. Não havia buraco, gaveta, porta por onde não espreitasse e claro, onde se metesse.

Em 2004 caíu da janela da cozinha e aterrou, 5 andares abaixo, no quintal dos vizinhos em frente. Tirando o susto não lhe aconteceu nada, nem um ossinho partido. Achava eu que era por ser gata, que caíam sempre de pé e que caíam bem.

Na quarta-feira passada, conseguiu meter-se entre as janelas, num espaço em que era impossível entrar e que se tornou impossível de voltar atrás. Era meia-noite e meia, já estava na cama a lutar contra o calor e só oiço o R. dizer, a gata caíu! Começou o pesadelo. Só tive tempo de enfiar uma camisola e uns chinelos e de correr escadas abaixo até ao pátio da cave. Lá estava ela, assustada, a um canto, imensas manchas de sangue muito vermelho e a vizinha, simpática, a tentar ajudar. O R. viu logo que a boca estava estranha, a mandíbula inferior estava muito para trás... estava com uma expressão diferente, não parecia a mesma gata.
Toca de correr para o hospital (abençoados hospitais com serviço de 24 horas), radiografias, apalpações, sedativos... De facto a mandíbula estava partida mas é um procedimento simples, coloca-se um arame, corrige-se a posição e com tempo volta ao sítio. É como partir um braço. Simples.
Mas havia uma manchinha ao lado do pulmão. Havia uma bolsa de ar que não era suposto lá estar. E só no dia seguinte é que podiam saber ao certo o que era... Muitas, imensas horas depois. Ás 2 da manhã vimo-nos embora, a Pamy ficou internada.
Ás 10 da manhã do dia seguinte recebo o telefonema do hospital: ela não aguentou, havia uma hemorrogia interna, os orgãos estavam danificados.

No espaço de 1 mês e meio perdi duas gatas, mãe e filha. As que me acordavam de manhã, as possessivas e ciumentas, as de rabo partido.
Acho que a morte da Pamy está a custar-me mais que a da Juju, talvez porque a Juju estivesse muito doente e sabíamos que estava a sofrer. Mas não a Pamy. Era suposto ser uma mandíbula onde se iria colocar um arame, eventualmente teria que ser alimentada à seringa mas depois ficaria bem. Foi tudo demasiado rápido. E começo a ficar farta de sair daquele hospital com a gateira vazia!
Acho que ainda a oiço, tinha um miar de gatinha engraçada e exibicionista. E era invulgarmente pequena, com cara de urso e não de felino.

Até já pensei em vender a casa só para nunca mais olhar para as janelas da cozinha. Mudar-me para um rés-do-chão. Fazer qualquer coisa que me faça esquecer a estupidez daquela queda, a rapidez da morte da Pamy. Passei do estado de fúria para o de tristeza e incompreensão, de rever todos os passos naquela noite, a forma como a levantei do chão do pátio, a abertura entre as janelas, o calor insuportável naquela noite. Era a minha gatinha engraçadinha, a vaidosa e exibicionista.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Lamento muito.

12:09 da manhã  

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