quarta-feira, março 08, 2006

Hoje um senhor desconhecido quis oferecer-me uma flor, uma gerbera. Parece que o tal senhor desconhecido é muito conhecido pelas pessoas do meu bairro, porque parece que ganhou as últimas eleições. Eu nunca o tinha visto. Nem ele a mim. Mas queria oferecer-me uma flor. Amarela. Uma gerbera, já vos tinha dito?
Como não o conhecia, e continuo a não conhecer o senhor de lado algum, recusei o gesto amável. A comitiva que acompanhava o simpático senhor, sim eram três ou quatro, não queria acreditar. 'Qual é a mulher que não gosta de receber flores'? podia ler-se nas caras perplexas de todos os senhores simpáticos e desconhecidos. 'Pois, pensei eu, mas é que eu até gosto de receber flores, e jóias, já agora'. Depois achei que era para um anúncio, daqueles dos estranhos a oferecer flores a estranhas. Afinal não. Era por ser um dia muito especial, daqueles que só existem uma vez por ano. Calhou ser o dia 8 de Março, podia ter sido outro qualquer. Ou não, não sei.
Só sei que respondi ao senhor, ao que me queria oferecer uma gerbera amarela, que o fizesse todos os dias, porque todos os dias sou mulher. Porque todos os dias somos o mesmo número de mulheres à frente de empresas. Porque todos os dias somos o mesmo número diminuto de senhoras que se sentam na Assembleia da República. Porque todos os dias o nosso salário é menor que o dos homens. Porque todos os dias somos discriminadas de uma ou outra forma, só porque gostamos de pintar as unhas, usar uma mini-saia ou ousarmos sermos bonitas. Ou por termos essa capacidade espantosa de carregarmos um filho ou uma filha durante nove meses dentro da barriga.

Bem... na realidade não lhe respondi nada disto, até porque ía no autocarro e assisti à cena da oferenda de flores pela janela. Mas se não estivesse no autocarro, se estivesse naquele mesmo passeio e se o simpático senhor desconhecido tentasse oferecer-me uma gerbera amarela, teria sido isto que lhe teria respondido.
Acima de tudo porque não acredito em anúncios politicamente correctos pagos pela Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres, que amanhã passarão à história e os nossos dias serão como antes.

E o dia Internacional do Homem, quando é?

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"Se um estranho oferece-lhe flores..." era a frase corrente duma publicidade sobre um spray qualquer. Pois a mim ele (o estranho)não era estranho! Mas corei! Era uma rosa vermelha escura, era linda! O gesto veio dum deputado da oposição (direita), gostei do gesto. A minha sala adorou a flor.

MCJ

10:29 da manhã  
Blogger Marronco said...

"Porque todos os dias somos discriminadas de uma ou outra forma, só porque gostamos de pintar as unhas, usar uma mini-saia ou ousarmos sermos bonitas."
Diga lá, agora, a menina já ouviu falar em discriminação positiva? ;)
E digo mais: mini-saia, essa velha armadilha! Se olho, ZÁS! "Olhaste e tal e já não gostas de mim..."
Se não olho: "Pois é, nem reparaste na minha (mini)saia nova" ou "nem viste que hoje fiz a depilação" (Viva!) ou ainda "nem deste conta que não trago cuecas, seu insensível?!?"
Enfim, mulheres... adoro-vos!
:-)***
M.

11:42 da tarde  
Blogger Maria said...

Ora, ainda bem que te encontro aqui. Tens que mudar o sistema de comentários do teu blog. Que coisa manhosa é aquela que nunca consigo lá escrever nada. Ou antes, escrevo, mas depois nada, nicles, rien...

7:28 da tarde  

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